terça-feira, 5 de janeiro de 2016

“PSDB, um figurante na oposição” por Tosta Neto

Em qualquer democracia consolidada, a atuação da oposição é fundamental no equilíbrio do poder político. Oposição responsável é aquela que fiscaliza, faz o seu papel de forma clara e republicana dentro dos limites estritos do Estado Democrático de Direito, colocando a vontade do povo acima de interesses individuais e espúrios. Os políticos brasileiros ainda não aprenderam com Rousseau, que o ato de governar e fiscalizar deve estar coadunado com a vontade coletiva, mas este ideal iluminista está submerso nas trevas aqui no Brasil.
Nos últimos 13 anos, coube ao PSDB a atribuição de protagonista no bloco de oposição, todavia, os fatos mostram que os tucanos foram covardes e omissos para tal função. Em 2005, no episódio do mensalão delatado por Roberto Jefferson, o governo Lula estava acuado como uma lebre diante da águia e, numa equivocada leitura de conjuntura política, o PSDB foi complacente com este escândalo de corrupção, complacência que permitiu ao PT uma recuperação de fôlego político e propiciou a pavimentação da reeleição de Lula em 2006. No mensalão, o PSDB não esteve à altura da complexidade histórica, cuja apatia política engendrou sérios dividendos políticos.
O PSDB mergulhou a cabeça no chão como um avestruz frente à grande aprovação do segundo governo Lula. Ademais, o PSDB foi estraçalhado pelo PT no jogo do discurso. Vejamos os fatos:
1. O PSDB foi relapso e inoperante na defesa dos 8 anos de governo FHC, cujo principal legado foi a estabilização da economia, fator imprescindível para o alcance de várias conquistas na área social;
2. Os petistas, com uma retórica combativa alicerçada na repetição incessante, maximizada pelo silêncio dos tucanos, reduziram em migalhas a herança positiva de FHC, construindo no imaginário popular um quadro de caos socioeconômico herdado pelo governo Lula;
3. Notoriamente, não sejamos ingênuos, o Bolsa Família foi a principal plataforma das vitórias petistas em 2006, 2010 e 2014, porém, as sementes deste necessário programa social germinaram na gestão de FHC. Com sagacidade, Lula unificou os programas sociais do antecessor (Bolsa Escola, Vale Gás) e cunhou o título Bolsa Família, transmitindo a ideia da instalação dum programa social pioneiro na história do Brasil;
4. A derrota vexatória no jogo do discurso, equivalente ao 7 x 1, deixou o PSDB numa situação de alternativa inviável para o eleitorado brasileiro, haja vista a reeleição da incompetente e incapaz Mulher Sapiens em 2014.
2015, marco inicial do segundo mandato da Dilma, foi um dos anos mais conturbados da história política do Brasil: aprovação popular abaixo de dois dígitos, malogro na eleição para presidência da Câmara dos Deputados, disparada das taxas de inflação e de desemprego, petrolão, efeitos fulminantes da Operação Lava Jato, prisão de petistas (José Dirceu, João Vaccari e Delcídio do Amaral), crime de responsabilidade fiscal conforme análise e conclusão unânime do Tribunal de Contas da União (TCU), recessão econômica, discursos patéticos da “presidenta” – vide a saudação clássica à mandioca –, formação de ministério recheado por amadores, não esqueçamos das nomeações do anônimo Pepe Vargas para a pasta de Relações Institucionais e do ex-apresentador de programa televiso, George Hilton, para o Ministério dos Esportes, enfim (ufa!), com todos estes fatores negativos no governo da Rainha da Mandioca, o PSDB não teve a competência de realizar uma oposição rija e contumaz, além da falta de unidade entre seus líderes sobre o processo de impeachment. Prezado leitor, imagine se o PT estivesse na oposição defronte este quadro desastroso do governo Dilma; teríamos um verdadeiro “Inferno de Dante”.
O vazio da oposição foi ocupado por um partido que faz parte da base do governo, o PMDB, partido do vice-presidente e dos presidentes da Câmara e do Senado. O bloco emedebista contrário ao governo Dilma, apropriou-se do espaço que deveria ser ocupado naturalmente pelo PSDB, assim, os tucanos acabaram perdendo o protagonismo na ala oposicionista. O PSDB foi inepto enquanto partido de oposição, logo, o eleitorado não o vê como uma via confiável para a Presidência da República. Aparentemente, o PSDB perdeu a vontade de governar, ou talvez, esteja a esperar que o Palácio do Planalto caia do céu no seu colo. Ademais, o PSDB assistiu com passividade o aparelhamento do Estado pelo PT: contratação de milhares de militantes para cargos estratégicos no setor público, indicação de nomes ligados ao partido para o Supremo Tribunal Federal, deslocamento maciço de recursos públicos para cooptar e adestrar uma parte significativa da mídia – inclusive a Globo, canal que mais lucra com propagandas governamentais – e o petrolão (assalto bilionário da Petrobras), maior roubo de recursos públicos da história da humanidade. Apesar dos pesares e dos ionosféricos índices de rejeição, num hipotético 2º turno entre PSDB e PT, este último, ainda seria o franco favorito.
O PT governou até aqui sem a mínima oposição, o que possibilitou o supracitado aparelhamento do Estado. Temos a sensação que o PT governou e governa desprovido de oposição, status quo péssimo e nocivo para a democracia. Por causa de tamanha omissão e irresponsabilidade republicana, o PSDB tem pagado um exacerbado ônus eleitoral e continuará a pagar, pois foi incompetente no papel de principal partido de oposição ao adotar uma postura de figurante na trágica e cômica peça teatral da política brasileira na última década.
                                                Tosta Neto, 05/01/2016 


Sobre o Autor:

Tosta Neto é Escritor, Historiador e Colunista no Outro Olhar .

Um comentário:

  1. A argumentação do autor foi extremamente sagaz sobre a conjuntura de coisas da nossa realidade política, sobretudo, do papel da oposição. Depois de mais uma derrota nas urnas em 2014, FHC, em uma lúcida constatação, declarou que uma das razões de mais um revés eleitoral se dava em função da incapacidade do partido de mobilizar as massas e de estar em constante relação com o seu eleitorado e não apenas em tempos de eleição. Acredito também que, além das questões citadas por Tosta Neto, está o fato de que o PSDB nunca tenha conseguido se livrar de uma espécie de "ranço" elitista que caracteriza o partido. O PSDB passa a impressão, e talvez seja mesmo, uma espécie de "partido profissional", ou seja, aparece apenas nos pleitos eleitorais e não participa do cotidiano, do dia a dia da população. Falta-lhe também uma grande liderança, que tenha carisma e produza um discurso que atinja os anseios da população, sobretudo, das camadas mais pobres. Infelizmente, sentimos falta de uma terceira via política sustentável, pois essa monopolização PT/PSDB deixa o eleitorado sem muitas possibilidades de escolha. Os anos Lula foram excepcionais para o país (diminuição da pobreza, aumento da renda, crescimento econômico, investimento na educação etc.), mas a impressão que fica é que o modus operandi de governar do partido, sobretudo na era Dilma, está cobrando o seu preço agora (aumento da dívida pública e da inflação, corrupção generalizada, emparelhamento do estado, fisiologismo político levado às últimas consequências etc.) e se encontra saturado. O eleitor, principalmente da população de baixa renda, encontra-se em dívida com o partido como o sujeito miserável que recebe uma mesada de uma espécie de "mecenas" e fica eternamente ligado a ele. Olha para o lado e não vê outras opções confiáveis e se ampara no velho lema do "rouba, mas faz". Cada dia que passa, sinto-me mais e mais enojado, não da política, pois ela é salutar quando pensada como bem coletivo como nos ideais gregos, mas da "politicagem" que se pratica no nosso país. E refiro-me a todos os partidos. A diferença é que alguns roubam em blocos e generalizadamente (PT) e os outros individualmente ou em pequenos grupos (os demais partidos). Estamos órfãos de bons políticos, altruístas, honestos, com ideais coletivos, ou que,pelo menos, levem o que fazem com dignidade. Espero viver para conhecer pelo menos, meia dúzia desses...

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