sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A República está podre. Deu o que tinha de dar. É o momento final de uma estrutura de poder que não mais responde às necessidades nacionais. Ao longo da história republicana tivemos momentos de ruptura, como em 1930, 1964 ou, em menor escala, em 1985. Agora a crise adquire outro perfil. Pela primeira vez vivemos sob a égide de uma Constituição plenamente democrática. E que enfrentou dois processos de impeachment em apenas um quartel de século. Mas nunca, por paradoxal que pareça, a corrupção esteve tão presente nas entranhas do poder, como agora.
O Estado democrático de Direito, ao invés de garantir o exercício pleno da cidadania, acabou se transformando em apanágio para os corruptos. A estrutura legal foi instrumentalizada em favor daqueles que transformaram a coisa pública em coisa privada. E contou com uma ampla base de apoio na praça dos Três Poderes, símbolo maior da ineficácia das instituições republicanas.
Os acontecimentos que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff abriram um leque de possibilidades. A tradição nacional, infelizmente, é de encontrar soluções superficiais, sem ir ao âmago dos problemas, evitando uma cesura institucional mais profunda. Em outras palavras, é a velha conciliação, que impede a constituição plena do novo e preserva, na ordem recém-nascida, a maior parte das antigas mazelas, agora sob nova roupagem. Dessa vez, devido ao esgarçamento das instituições e da participação inédita da sociedade civil na esfera política, abriu-se a possibilidade de – finalmente! – caminharmos rumo a uma sociedade democrática, republicana e com sólidas instituições sob controle dos cidadãos.
A contradição principal é que a velha ordem ainda detém o controle da máquina estatal. As concessões dos donos do poder chegaram ao limite, como no julgamento de Dilma Rousseff. Esperar que avancem em direção aos reclamos democráticos da sociedade civil é absoluta ingenuidade. Aí está o nó górdio. Mas como desatá-lo?
Nada indica que a crise institucional encontre solução à curto prazo. Haverá uma recuperação econômica, ainda que tímida e muito aquém das potencialidades nacionais. Alguns figurões da República irão para a cadeia. Em uma ou outra fração do aparelho estatal poderá ocorrer reformas. Contudo, a essência do problema vai permanecer.

(Por Marco Antonio Villa / Artigo publicado na ISTO É)

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