quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O que deu errado para Hillary Clinton?

E poucas pessoas personificam a classe política americana mais que Hillary Clinton. Para milhões de indignados, ela se tornou a face da falência da política dos Estados Unidos.
Donald Trump conseguiu persuadir eleitores em suficientes Estados com a promessa de consertar o país. O bilionário se apresentou como o "não político" definitivo contra a política definitiva. Ele era o candidato de protesto. Ela representava o status quo.
Hillary constantemente afirmou ser a candidata mais qualificada. Citou constantemente seu currículo: sua experiência como primeira-dama, como senadora por Nova York e como secretária de Estado.
Mas nesta complexa eleição, que foi repleta de raiva e descontentamento, muitos dos que apoiaram Trump viram experiência e qualificações como aspectos muito negativos.
Assim, muitas das pessoas com quem falei durante a campanha - especialmente nas cidades do chamado "cinturão da ferrugem" (região que engloba áreas no nordeste e no centro dos Estados Unidos, frequentemente relacionadas ao declínio industrial) - queriam um empresário na Casa Branca, em vez de um político de carreira.
O ódio deles em relação a Washington era palpável. E, da mesma forma, odiavam a candidata democrata.
Lembro-me vividamente de uma mulher de meia idade no Tennessee que exalava o encanto sulista - e que não poderia ser mais educada. Mas quando o nome de Hillary Clinton surgiu na conversa, todo o seu comportamento mudou.
Hillary havia muito tempo tinha um problema de confiança, por isso o escândalo dos e-mails tomou proporções tão grandes. Ela tinha um problema de autenticidade. Era vista como a sacerdotisa de uma elite da costa leste americana que desprezou a classe trabalhadora.
As grandes riquezas acumuladas pelos Clinton desde a saída da Casa Branca também não ajudaram. Elas exacerbaram os problemas da candidata com os eleitores da classe trabalhadora, que acabou votando em um magnata do ramo imobiliário.
Em um país onde há mais eleitoras mulheres que homens, pensava-se que a questão de gênero desse a ela uma grande vantagem.
Mas o que ficou claro nas primárias contra seu rival Bernie Sanders foi a dificuldade que Clinton encontrou para entusiasmar jovens eleitoras com o fato de que poderiam eleger a primeira presidente mulher dos Estados Unidos.
Muitas mulheres nunca a apoiaram. Algumas se lembraram de uma declaração da época em que era primeira-dama, interpretada como depreciativa, na qual ela afirmou não querer ficar em casa fazendo biscoitos.
Muitas eleitoras concordaram com Trump quando ele a acusou de ataques contra mulheres que acusaram Bill Clinton de abuso.
Sem dúvida, um certo sexismo fora de moda também teve alguma influência no resultado da eleição: muitos eleitores homens tinham dificuldade em aceitar uma presidente mulher.
E em um ano no qual tantos americanos queriam mudança, ela apareceu para oferecer mais do mesmo.
Sempre é difícil para um partido vencer três eleições presidenciais consecutivas - os democratas não conseguem isso desde os anos 1940. Mas o problema foi exacerbado pelo fato de que muitos eleitores estavam entediados com os Clinton.

Campanha
Hillary não tem o dom para campanhas. Seus discursos geralmente são monótonos e, de alguma forma, robóticos.
Para muitos, os destaques de suas falas parecem ensaiados e pouco sinceros. E o ressurgimento do escândalo dos e-mails foi uma grande distração - e fez com que ela terminasse sua campanha com uma mensagem negativa.
Ela lutou metodicamente para criar sua visão dos Estados Unidos - o slogan "Juntos somos fortes" não foi tão adequado quanto o de Trump, "Vamos fazer a América grande de novo".
Na verdade, a campanha de Hillary explorou dezenas de possíveis slogans, o que mostrou dificuldade de criar uma mensagem própria.
Também cometeu erros estratégicos. Um deles foi dedicar tempo e recursos em Estados nos quais ela não precisava ganhar, como a Carolina do Norte e Ohio, em vez de concentrar esforços na chamada "muralha azul", os 18 Estados que votaram nos democratas nas últimas seis eleições.
Contando com a ajuda da classe trabalhadora branca, Trump "demoliu" parcialmente essa muralha ao vencer na Pensilvânia e em Wisconsin, um Estado que não votava no Partido Republicano desde 1984.
Mas essa não foi uma rejeição apenas a Hillary Clinton. Foi uma rejeição de metade do país à América de Barack Obama - mas isso é assunto para outro dia.

(Por Nick Bryant / BBC Brasil)

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