segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Eis a questão: sou ou não sou nordestino? por Tosta Neto

Tosta Neto (Escritor e Historiador) - Colunista do Outro Olhar

    Ainda sob o calor do resultado das eleições, o ‘nosso’ país foi revolvido por comentários inter-regionais supostamente preconceituosos, cujas redes sociais foram o palco principal dum debate mais vazio que o próprio vazio. O Nordeste foi tachado como uma súcia de miseráveis e ignorantes, e o Sudeste, como uma caterva rica e opressora. Eu não desperdicei meu precioso tempo com uma coisa tão estéril.
    O Nordeste não deve ser colocado na condição de vítima. A moral que vitima o nordestino é uma moral tipicamente cristã, a qual obstrui a capacidade humana da transcendência, criando um rebanho de ovelhas e posicionando o “outro” enquanto carrasco e dominador. Por sinal, essa moral escrava é fundamental para perpetuar um grupo político no poder, pois o escravo precisa do senhor para protegê-lo, em alguns casos, este último recorre a métodos governamentais alicerçados no assistencialismo. O nordestino não é um coitadinho e oprimido. O nordestino não é vítima. Aliás, ninguém é vítima!
    Quem tem o mínimo conhecimento histórico sabe que a região nordeste foi o centro político-econômico do Brasil, do início da colonização até a crise da economia açucareira no século XVII e a consolidação da mineração no século XVIII. Quem estudou o Primeiro Reinado lembra-se da Confederação do Equador, união de algumas províncias nordestinas que tinha entre seus objetivos, a separação do Brasil. Pois é, as províncias supracitadas almejavam uma nação inspirada nas ideias republicanas, obviamente, uma nação livre do Brasil.
    Quem teve o imenso prazer de ler O Banquete recorda-se da narrativa de Platão sobre o nascimento do Amor (Eros), personagem que apresenta uma natureza dupla: a riqueza do pai (Poros) e a penúria da mãe (Penia). Onde houver riqueza, consequentemente, haverá pobreza, logo, não é de bom grado que uma região se autoproclame o baluarte da riqueza. Uma não existe sem a outra. Qualquer região do mundo tem a companhia dessas irmãs inseparáveis. 
    O tempo é impiedoso e, em breve, esse debate inter-regional será decapitado. Ademais, é uma bobagem retumbante insistir na contenda Nordeste versus Sudeste. Esqueçamos isso! A história nos aponta que as nações e os regionalismos são construções humanas e abstratas. Não existe Brasil! Não existe Nordeste! Não existe Sudeste! Não existe Argentina! O que existe é o planeta Terra! Lembrei-me duma frase da música “Conheço o meu lugar” do grande compositor Belchior: “Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!” Eis a questão: sou ou não sou nordestino? Respondo: não sou nordestino, não sou brasileiro, sou um “cidadão do mundo”. 

 Tosta Neto, 01/11/2014


Sobre o Autor:
Tosta Neto Tosta Neto é Escritor e Historiador, Colunista do Outro Olhar .

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