sábado, 17 de setembro de 2016

"...13 ou 43..." por Tosta Neto

A campanha eleitoral do município é a que mais contagia o eleitor, afinal, existe uma relação próxima entre candidatos e eleitores; a temática em questão é deveras recorrente nas rodas de conversa. Normalmente, as cidades, sobretudo do interior, ficam divididas em duas cores. Nas redes sociais, presencia-se uma série de postagens fervorosas e passionais sobre os candidatos, além da exposição maciça de fotos dos eventos políticos. As emoções ficam à flor da pele e velhas amizades, às vezes, são temporariamente rompidas.
No pleito eleitoral, a “política” fica em evidência, embora ocorra um equívoco no uso do termo. Se quisermos compreender a definição de política, precisamos regressar à Grécia Antiga. Consoante os gregos, política quer dizer bem comum, logo, o político é aquele que visa o bem comum e relega os interesses individualistas. Política vem de pólis, instituição grega que representou a cidade-estado. O verdadeiro político zela em prol da harmonia citadina. Portanto, há diferenças exacerbadas entre política e “política”, contudo, estas palavras acabam confundindo-se na mentalidade popular.
No desenrolar da campanha, a política fica obnubilada pela animosidade dos grupos partidários, assim, os temas de textura pública são esquecidos pelos atores envolvidos. O pleito eleitoral se transmuta na Grande Gincana, desvelando-se bordões clássicos: a carreata do 13 tinha carro de fora; a caminhada do 43 tinha muita criança; tal rua tem mais bandeiras do 15; tal pesquisa aponta a liderança do 55. Ademais, os candidatos são elevados à categoria de semideuses, cujas “qualidades” são exaltadas em verso e prova. O candidato se torna um ser divino, dotado de simpatia e infalibilidade, prometendo para o eleitorado o paraíso terrestre.
A Grande Gincana inunda as ruas: carros plotados, bandeiras, adesivos, caminhadas, carreatas, festas da gasolina, etc. Eu não posso olvidar das músicas que embalam as campanhas: paródias de qualidade duvidosa, letras repetitivas, melodias paupérrimas, enfim, daqui até o final da campanha, nossos ouvidos ficarão saturados e os números dos semideuses martelando o nosso mundo consciente; sem querer, acabamos cantando essas musiquinhas. A Grande Gincana desloca a pauta de propostas dos candidatos para um plano terciário. Talvez, o eleitorado brasileiro tenha perdido a paciência de ouvir as propostas, pois as mesmas desaparecem no vendaval de promessas que jamais serão cumpridas. É inconteste que a classe política não detém a confiança do povo.
No Brasil, o “político” virou símbolo de mentira e corrupção, aquele tipo que fracassou na carreira profissional e só entrou no ramo para “levar vantagem” (enriquecer). Desde a República Velha até a contemporaneidade, o pleito eleitoral está imbuído de mazelas, haja vista o uso da estrutura pública em benefício de determinado grupo político, como também a prática sórdida da compra de votos, o famoso “toma lá dá cá”. As mazelas supracitadas corroboram com a famosa frase atribuída ao pensador político de Florença Nicolau Maquiavel, os fins justificam os meios, isto é, o “político” deve fazer de tudo para conquistar o poder.
Irrefutavelmente, a essência da política está mui corrompida. Ademais, os anseios espúrios do partidarismo contribuíram com tal corrupção. O político e o partidário estão em polos antípodas. A política está coadunada ao bem comum. O partidarismo coloca a causa do partido acima do bem comum. O genuíno político não tem partido, por conseguinte, defende diuturnamente a égide sacra do bem comum. O partido denota algo que está partido (dividido, separado), status quo que desguarnece a defesa do afã público. O político de fato não se preocupa com 13 ou 43, 15 ou 55, PT ou PSDB, PC do B ou DEM, outrossim, inspirado no essencial primevo da política, busca a construção duma polís (sociedade) mais justa, democrática e humana.


                                                                 Tosta Neto, 17/09/2016

Um comentário:

  1. Crônica extremante lúcida sobre o tipo de "política" que se pratica no nosso país, em especial em nossa cidade. Essa característica de "gincana" mencionada no texto reflete bem tudo isso. Outro tópico bem relevante levantado pelo cronista é no que tange à diferença entre político e partidário, pois essa é uma diferença essencial para se conhecer um grande homem público e um péssimo político. Percebemos a prática constante do "partidarismo" como modus operandi de se fazer "política" que se reflete na incessante tentativa de um determinado grupo partidário, eventualmente na oposição, em tentar boicotar os que estão na situação. O verdadeiro político, aquele fundamentado nos valores gregos, deveria realizar sempre uma oposição responsável, ou seja, apontar o que consideram erros da gestão do momento, fiscalizar, propor alternativas, lançar projetos nas câmaras municipais, entre outras práticas salutares para o bom exercício da verdadeira política. Contudo, não é o que acontece atualmente, pois o que as oposições políticas realizam país afora é essa tentativa constante de boicotar, segurar, engessar, amarrar, minar, mentir, caluniar, barrar projetos, propostas, benefícios, mesmo que favoreçam a população porque temem que o grupo político que administra atualmente a cidade, estado ou país "leve a fama" pelo bom serviço prestado ao povo. Os "políticos" precisam aprender a serem POLÍTICOS e não partidaristas, pois só assim, teremos a oportunidade de superar a atual crise que a nossa nação enfrenta, melhorar a imagem dos mesmos perante a população e opinião pública e superar as correntes do atraso e da mediocridade nacionais. A minha esperança é pouca, mas como disse certa vez o grande filósofo grego Aristóteles: "a esperança é o sonho do homem acordado".

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