quinta-feira, 27 de outubro de 2016

"O que está por trás das aparições de palhaços?" por Tosta Neto

Recentemente, o pacato e hospitaleiro Povoado do Km-100 foi acometido por supostas aparições de palhaços, porém, há parcas fontes que comprovem tais fatos. Nesta tempestade de “disse me disse”, as informações se multiplicam de forma descontrolada, ganhando uma proporção impactante nas rodas de conversa (só se fala no palhaço): “ontem à noite, fulano viu dois palhaços na rua de baixo”; “o palhaço correu atrás de uma menina”; “é verdade, o palhaço correu atrás de mim.” A veracidade dos fatos pouco importa, logo, a intensidade dos relatos provoca uma sensação de panis collectivum ante a iminente aparição dos palhaços.
A onda dos palhaços começou nos Estados Unidos, chegou à Europa, já tem ecos no Brasil e espraiou no Km-100. Algures, uma histeria em massa bombardeia o inconsciente coletivo, trazendo para o mundo da fantasia um cunho de “realidade”. As supostas aparições crescem como bola de neve. Ademais, percebe-se um efeito viral nas redes sociais, com milhões de visualizações e comentários sobre os vídeos das aparições, muitos desses, habilmente manipulados. É importante enfatizar, que a onda dos palhaços não é um fenômeno hodierno; há exemplos equivalentes com outras roupagens que povoam o imaginário popular. Quem não se lembra das aparições de fantasmas, ETs, óvnis, “chupa-cabra”, lobisomem, etc.? O fato é que os seres humanos têm uma incomensurável atração por essa confusão entre fantasia e realidade.
Apesar das roupagens supracitadas, a figura do palhaço tem um peso maior. Desde a infância, o palhaço emerge no mundo do indivíduo como aquele ser “gente boa” que provoca risos e mais risos. Indubitavelmente, nos espetáculos circenses, o bloco dos palhaços é o mais aguardado pelo respeitável público. Nas eleições de 2010, o palhaço Tiririca obteve uma votação absurda superior a 1.300.000 votos para o cargo de Deputado Federal pelo estado de São Paulo. O palhaço é um personagem que transita tranquilamente nas trilhas cômicas e trágicas da humanidade. Em contrapartida, o palhaço também tem o seu arquétipo de terror, imagem construída em filmes de palhaços assassinos e ladrões mascarados. A personificação do palhaço enquanto ser cruel e sádico foi reforçada com o sucesso do filme Batman, o Cavaleiro das Trevas, com aquelas cenas iniciais de palhaços roubando o banco, cujo epicentro da trama é o Coringa.
Neste modesto artigo, o vilão mais popular dos quadrinhos, merece um parágrafo especial. O Coringa virou um titã no panteão dos vilões, graças ao intelecto genial, alta capacidade de improvisação, persistência e humor sádico. A intenção da DC Comics era que o Coringa tivesse existência curtíssima, porém, o sucesso estrondoso do “Palhaço do Crime” prolongou sua existência. O Coringa é o grande rival do Batman, simplesmente, o adversário à altura do “Homem-Morcego”. Muitos especialistas da temática em questão denominam o Coringa como o alter ego do Batman (o opositor perfeito). O Coringa cativa também por causa de sua imprevisibilidade, pois não segue as regras convencionais do jogo. O “Flagelo de Gotham” cria suas próprias regras, adapta-se facilmente às circunstâncias mais adversas e traz consigo um ego obscuro, inominável e indefinível. Há tempos, o Coringa deixou de ser o inimigo do Batman, para ser somente o Coringa, um personagem autêntico e independente que transcendeu as páginas dos quadrinhos.
Mais uma vez, o Coringa emerge com a onda dos palhaços para causar caos e pânico nas mentalidades. Aparentemente, a atração por palhaços está entranhada no inconsciente coletivo, sendo uma lenda urbana pautada de curiosidade, comédia e terror. A figura alegre e macabra do palhaço habita as partes mais profundas da mentalidade humana. Inclusive, há o medo específico de palhaços, a coulrofobia. As frestas da inconsciência são habitat da horda de palhaços, uma patologia que não avista nenhum tipo de cura no horizonte. A repercussão nos Estados Unidos está sendo tão expressiva que entrou na pauta da Casa Branca. Doravante, a onda dos palhaços irá arrefecer, mas o inconsciente coletivo sempre escutará as risadas inocentes e sádicas dos palhaços. Enfim, eu tenho medo de palhaços! E você?


                                    Tosta Neto, 27/10/2016

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