domingo, 15 de janeiro de 2017

"Prefeitura: a galinha dos ovos de diamante" por Tosta Neto

O Executivo por excelência é o poder que executa as leis, isto é, o governo de fato (a esfera que exerce a governabilidade). O poder executivo está dividido em três instâncias, federal, estadual e municipal, esta última, tem a incumbência da administração citadina. A prefeitura, poder executivo municipal em si, traz consigo amplitude local, configurando-se uma proximidade entre governantes e governados; por conseguinte, há mais pessoalidade nas relações de poder. No plano ideal, o prefeito governa para os munícipes, porém a práxis nos apresenta um realismo rebuscado de clientelismo, vingança, corrupção e paternalismo.
Obviamente, o advento à prefeitura é antecedido pelo processo eleitoral. O pleito municipal é aquele que mais mexe com os eleitores, por causa de seu alcance enredado à localidade. O candidato pode ser meu irmão, primo, vizinho, colega de trabalho, amigo de infância, etc. Para ser eleito, o candidato necessita realizar conchavos com os “notáveis” oligarcas, normalmente os que protagonizam a alternância de poder. Às vezes, esses oligarcas são ou estão ligados às famílias ditas tradicionais, status quo deveras perceptível em Amargosa. Na amarga cidade de Amargosa, qualquer candidato que vislumbre a vitória precisa aliar-se com as “famílias tradicionais”. Com a formação da base de apoio e o uso de artifícios inescrupulosos e escusos – compra de votos, promessa de empregos e propaganda maciça – o candidato angaria as potencialidades que poderão lhe conceder o triunfo na eleição municipal. Estamos cônscios que no Brasil, lamentavelmente, os eleitores não se importam com a qualidade dos candidatos e desconhecem as propostas das candidaturas que estão no jogo eleitoral.
A lua de mel entre o prefeito eleito e a base de apoio é arranhada ao longo do governo. Ademais, no modus operandi dos oligarcas que só conseguem viver como parasitas nas entranhas do poder, a prefeitura é vista como uma fonte inesgotável de empregos e cargos. O prefeito deve distribuir cargos para articuladores, indicados e bajuladores de sua campanha. A prefeitura é transformada em um balcão espúrio de distribuição de cargos, o notório cabide de empregos. Vale enfatizar, que a escaramuça é mais vivaz pelo controle das secretarias. Normalmente, os padrinhos mais influentes acabam abocanhando esses valiosos cargos. Nesta conjuntura de “toma lá dá cá” peremptoriamente desnuda de mérito, a técnica, a formação profissional e a experiência são relegadas, logo a composição governamental é constituída consoante os interesses de oligarcas e padrinhos políticos.
No imaginário popular, a prefeitura é apreendida como a “casa da mãe Joana”, graças a uma série de mazelas: salários altos e ineficiência administrativa, ausência de concurso público, iminência de atraso dos pagamentos, calotes, presença de alguns funcionários desconectados da causa pública, cargos de confiança... Além disso, empresários que apoiaram o prefeito na campanha exigem seus quinhões (milhões): informações privilegiadas em licitações públicas e a prática mui trivial de superfaturamento. Na lógica dos parasitas do poder, a prefeitura é a galinha dos ovos de diamante. Sabe-se que certos empresários e prefeitos corruptos adquirem verdadeiras fortunas em determinadas gestões, por isso que há tanta sede e fome no aparelhamento da máquina pública. As tetas da prefeitura são sugadas até a derradeira gota de sangue.
O formato de gestão pública no Brasil está carcomido e obsoleto. É mister a adoção de modelos administrativos que inibam a proliferação de vícios que corroem a estrutura estatal. Infelizmente, nossos governantes estão muito aquém do nível de excelência da gestão pública. Deve-se dificultar o acesso de corruptos à plataforma eleitoral e elevar a qualificação dos candidatos. Algumas medidas poderiam ser adotadas: fim dos financiamentos partidários público e privado (o partido deve ter recursos próprios), voto livre e distrital, drástica diminuição salarial e reputação ilibada dos políticos, cursos de gestão pública, etc. A caminhada é longuíssima e árdua, a internet e as redes sociais estão aí, portanto, continuemos atentos e vigilantes cobrando por uma gestão municipal enveredada aos anseios do povo.


Tosta Neto, 15/01/2017

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